O silêncio da mulher que gesta
- Vânia Cristina
- 15 de jul.
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de jul.
Nem sempre é paz — às vezes, o silêncio da gestação é ausência de escuta.

A gestação e o silêncio da mulher
Durante a gestação, as consultas, exames, preparativos e perguntas parecem girar em torno do bebê.
A mudança do corpo é visível para a mulher que gesta e para seu entorno — mas e o que está se transformando por dentro?
Muitas mulheres me dizem no consultório:"Parece que eu desapareci."
"Não sei mais quem eu sou."
"Todo mundo fala do bebê, mas ninguém pergunta de mim."
O invisível que dói
A mulher pode começar a se sentir invisível. Afinal toda a atenção, perguntas e cuidados são direcionados ao bebê que ainda não chegou.
O corpo vai mostrando, em detalhes, como a gestação está evoluindo.
A sensação da mulher é que está sendo reduzida a um único papel — um corpo que gesta, cujo lugar supõe emoções de alegria, plenitude e paz.
Essa sensação de desaparecimento de si é mais comum do que parece — e, muitas vezes, vem acompanhada de culpa: “Mas eu desejei essa gestação, por que estou me sentindo assim?”, “Eu amo esse bebê, mas sinto falta de mim mesma.”
Essa pergunta silenciosa, que insiste por dentro, pode tomar forma: "Onde eu fui parar no meio da gestação?"
A travessia simbólica da gestação
Na Psicologia Perinatal, podemos entender que a gestação é uma travessia simbólica:
• do Eu filha para o Eu mãe;
• dos sonhos e desejos de uma mulher sem filhos para os sonhos e desejos de uma mulher-mãe;
• da vida/rotina conhecida para a expectativa do “por vir” com um bebê.
Não é sinal de fraqueza emocional perceber os conflitos inerentes a esta travessia.
É natural — e até esperado — que a mulher se sinta em trânsito entre certezas antigas e sensações novas, entre o conhecido e o que ainda não tem nome.
É sinal de que algo está mudando profundamente — e merece escuta.
Um convite para escutar a si mesma
Se esse movimento interno tem gerado dúvidas, confusão ou um silêncio doloroso, te convido a um gesto simples de cuidado consigo mesma: um momento só seu para escutar o que você realmente sente.
Pegue papel e caneta, escolha um lugar tranquilo e responda, sem pressa e sem julgamentos, à pergunta:
“Como estou me sentindo como mulher, além de gestante?”
Não se preocupe com a forma, com a coerência ou com a gramática. Deixe as palavras fluírem livremente — mesmo que venham em fragmentos, sensações soltas ou sentimentos contraditórios.
Esse exercício não é sobre escrever certo, mas sobre permitir que você apareça para si mesma, criando um espaço interno de escuta e acolhimento.
Como fazer esse exercício
1. Reserve de 10 a 15 minutos. Escolha um lugar tranquilo, onde você possa escrever sem interrupções.
2. Pegue papel e caneta. Evite digitar — o gesto de escrever à mão favorece a conexão emocional e a fluidez do inconsciente.
3. Leia em voz baixa a pergunta abaixo:
“Como estou me sentindo como mulher, além de gestante?”
4. Escreva sem censura, sem se preocupar com gramática, sentido ou ordem.
Deixe vir.
Palavras soltas, frases quebradas, sentimentos contraditórios — tudo é bem-vindo.
5. Se travar, respire e continue. Se quiser, repita mentalmente: “Eu me permito aparecer.”
Depois do exercício
Ao terminar, não leia imediatamente.Guarde o papel ou deixe-o à vista por alguns dias.Depois, se quiser, releia com carinho — não para julgar o que escreveu, mas para se escutar com mais presença.
Esse é um gesto de autocuidado psíquico.Um lembrete silencioso de que você continua existindo — inteira, complexa, potente — mesmo em meio a tantas mudanças.
Você está em movimento
Você continua existindo mesmo em meio ao turbilhão de emoções ambivalentes e inomináveis.Lembre-se de que está em movimento — movimento de transformação física e psíquica.
Se quiser um espaço de escuta profunda para essa travessia, estou aqui para acompanhar você.
Com carinho,
Vânia Cristina
Psicologia Perinatal




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