Nem toda mãe se sente mãe logo no começo — e está tudo bem!
- Vânia Cristina
- 13 de mai.
- 3 min de leitura

Vivemos em uma cultura que romantiza o “instinto materno” como algo natural e inevitável. Como se toda mulher, ao parir, se transformasse imediatamente em uma mãe plena, conectada com seu bebê, apaixonada e em paz.
Essa imagem é reforçada em filmes, nas redes sociais, em conversas entre amigas e até por profissionais da saúde.
Mas essa não é a realidade de todas — e tudo bem.
Quando o vínculo não vem de imediato
A mulher pode se sentir confusa, desconectada de si mesma. Muitas descrevem que estão no automático: cuidando do bebê por obrigação, mas sem a emoção que esperavam sentir e que tanto ouviram falar. Isso pode fazer com que pensem que tem algo errado com elas.
Pode surgir culpa, medo, vergonha, tristeza, raiva — tudo porque não se sentem apaixonadas ou imediatamente conectadas com o bebê.
E esse sentimento, somado à exaustão física e emocional do puerpério, aumenta ainda mais o sofrimento.
O puerpério é um território de extrema vulnerabilidade
É uma fase de muita vulnerabilidade — física e emocional.
Há mudanças hormonais, privação de sono, a identidade sendo reorganizada e, muitas vezes, solidão.
A percepção de si mesma e da nova realidade pode estar alterada nesse período. O vínculo com o bebê pode levar mais tempo para se formar. E tudo isso é mais comum do que se fala por aí.
A armadilha da idealização
A sociedade idealiza demais o que é “ser mãe”. E quando a realidade vivida não combina com essa imagem, a mulher se sente deslocada, julgada, inadequada.
E a família — mesmo com boa intenção — pode contribuir com frases como: “Curte essa fase que passa rápido” ou “É a fase mais gostosa”. Comentários assim fazem a mulher se calar, engolir o que sente e não se sentir à vontade pra dividir o que realmente está vivendo.
Até profissionais da saúde, se não escutam com empatia e presença, podem reforçar esse silêncio.
Histórias que interferem no vínculo
A forma como essa mãe vive a chegada do bebê também é atravessada pela sua própria história.
Experiências difíceis no parto, dificuldade na amamentação, histórico de ansiedade ou depressão, falta de apoio, relação com a própria mãe ou com o cuidado que recebeu na infância — tudo isso pode impactar o vínculo com o bebê.
A maternidade pode reabrir feridas inconscientes.
Mulheres que passaram por abandono, negligência ou abuso podem se sentir paralisadas diante do bebê.
Sentimentos ambivalentes também podem surgir quando não houve modelos afetivos seguros na infância.
Essas marcas, mesmo que inconscientes, influenciam a forma como a mulher vai maternar.
O vínculo também pode nascer devagar
Cuidar dessa mulher é validar o que ela sente. É estar disponível sem empurrar soluções não solicitadas.
É dizer com verdade: Você não é menos mãe porque não sente o que esperavam que você sentisse.
O vínculo pode nascer aos poucos: num olhar mais atento, num toque mais presente, no silêncio compartilhado. A convivência constante e o cuidado cotidiano criam espaços para o afeto florescer — no tempo de cada mãe e seu bebê.
Muitas de nós começam a sentir esse amor mais forte semanas — às vezes meses — depois do nascimento.
Algumas dizem que foi depois do primeiro sorriso. Outras, quando conseguiram dormir uma noite inteira. Ou quando ouviram o bebê chamar “mamãe”.
Esse amor que nasce devagar, construído nos detalhes do dia a dia, também é amor.
Quando a mãe é cuidada, o vínculo floresce
É importante lembrar que o vínculo com o bebê pode ser fortalecido quando a mãe se sente emocionalmente cuidada.
O acompanhamento psicológico oferece um espaço seguro onde ela pode se escutar, se entender, se acolher. Com tempo, presença e sem julgamento.
Pra fechar…
Se você é uma mulher que não se sentiu mãe logo de cara: está tudo bem.
Você não está sozinha.
Você não está errada.
Você está vivendo algo muito profundo e, mesmo que ainda não pareça, você está se tornando mãe — no seu tempo, do seu jeito.
Se puder, busque apoio.
Você merece ser cuidada também. Com carinho, Vânia Cristina 06/67085




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